Em poucos dias, todos os internados na UTI tinham covid-19 e não eram apenas os problemas respiratórios que causavam preocupação.
Helms e seus colegas publicaram um estudo no periódico New England Journal of Medicine documentando os sintomas neurológicos em pacientes com covid-19, que variavam de simples dificuldades cognitivas a confusão mental.
Agora, mais de 300 estudos de todo o mundo descobriram uma prevalência de anormalidades neurológicas em pacientes com covid-19, incluindo sintomas leves como dores de cabeça, perda de olfato (anosmia) e sensações de formigamento e graves como afasia (incapacidade de falar), derrames e convulsões.
Além das descobertas recentes, o vírus, que causa majoritariamente uma doença respiratória, também pode afetar rins, fígado, coração e praticamente todos os sistemas do organismo.
A extensão e a gravidade desses problemas ficaram sob o radar da maioria das pessoas, inclusive dos médicos, porque essas anormalidades neurológicas podem não ser reconhecidas como tal quando aparecem.
Para complicar ainda mais, muitas pessoas com sinais do Sars-CoV-2 nunca são realmente testadas para o vírus, especialmente se não têm tosse ou febre. Isso significa que, se elas tiverem sintomas neurológicos, talvez nunca saibam se isso está relacionado à covid-19.
Desde o início da pandemia, tornou-se cada vez mais claro que o Sars-CoV-2 não é apenas uma versão turbo do vírus que causa o resfriado comum: ele tem várias características peculiares, incomuns e, às vezes, aterrorizantes.
Por exemplo, a maioria das pandemias virais, incluindo as de gripe, têm uma curva de mortalidade em “U”, matando os mais jovens e os mais velhos. Mas o Sars-CoV-2 normalmente causa apenas sintomas leves em crianças.
A hipóxia silenciosa é outro mistério. Nosso sangue normalmente apresenta níveis de saturação de oxigênio de cerca de 98%. Qualquer coisa abaixo de 85% pode nos fazer levar à perda de consciência, coma ou até morte.
Mas um grande número de pacientes com covid-19 apresenta níveis de saturação de oxigênio abaixo de 70%, mesmo abaixo de 60%, mas permanece totalmente consciente e cognitivamente funcional.
E, embora os pesquisadores examinem o vírus e suas vítimas há seis meses, publicando estudos científicos a uma taxa nunca antes vista com qualquer doença, ainda temos mais perguntas do que respostas. O mais novo enigma a ser adicionado é: o vírus pode infectar o cérebro?
Acredita que o efeito neurológico do vírus é um resultado indireto da falta de oxigênio no cérebro (a hipóxia silenciosa exibida por muitos pacientes) ou o subproduto da resposta inflamatória do corpo (a famosa “tempestade de citocinas”).
Embora raro, esse comportamento não é desconhecido entre esses micro-organismos: o vírus da catapora, o herpes zoster, por exemplo, geralmente infecta as células nervosas da coluna vertebral, reaparecendo mais tarde na idade adulta.
Outros vírus causaram impactos de longo prazo muito mais devastadores. Um dos mais notórios foi o vírus influenza responsável pela pandemia de gripe espanhola, em 1918, que causou danos permanentes e profundos aos neurônios dopaminérgicos do cérebro e do sistema nervoso central.
Fonte: https://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/bbc/2020/06/25/coronavirus-como-a-covid-19-danifica-o-cerebro.htm